Entre tipos e memórias

Entre tipos e memórias

Campomizzi sempre foi um leitor voraz de jornais e livros.

Sua primeira experiência no jornalismo ocorreu no semanário Folha do Povo, fundado em 1900 pelo senador Levindo Eduardo Coelho. Oficialmente, assumiu o cargo de redator desse jornal em 1º de janeiro de 1949. Seu ofício como jornalista acompanhou seus estudos na Faculdade de Direito de Niterói. Posteriormente, ele fundou e colaborou com diversos jornais e revistas em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.


Com o sucesso de suas críticas literária Campomizzi passou a ser acompanhado por uma legião de leitores atentos. Suas avaliações eram tão influentes que muitas pessoas aguardavam as recomendações antes de se dirigirem à biblioteca para adquirir novos livros. Esta experiência não apenas solidificou sua reputação, mas também lhe rendeu elogios em correspondências enviadas por personalidades literárias renomadas, como Carlos Drummond de Andrade, a poetisa Yeda Prades Bernis, o escritor Pedro Nava, o historiador Demerval José Pimenta e outros.


Moises Mota

Associado Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais

moises@ihgmg.org

Campomizzi,


Você fez, da crítica de meu livro, um texto literário da melhor qualidade, de onde ressalta a sua alta sensibilidade. Valorizou meu livro esplendidamente.


Gratíssima, Yeda.

Rio de Janeiro, 20 de outubro de 1974.


Caro Campomizzi Filho:


Chegou o exemplar nº 2 de “folha do Povo”, com o seu artigo. Muito obrigado. O que você me diz sobre o jornal me trouxe recordações mineiras de outros jornais muito parecidos, em que lidei. Olhe que o “Diário de Minas” de Belo Horizonte, órgão do Partido Republicado Mineiro, cuja redação chefiei, não era lá muito melhor servido de recursos técnicos do que a sua “Folha”: a mesma composição manual, as mesmas quatro páginas, clichês emprestados pelo “Minas Gerais”, que emprestava também o pequeno serviço telegráfico do Rio... E a gente o fazia com amor, o jornalzinho era alguma coisa que participava de nossa vida. Eu tenho o maior carinho pelos pequenos jornais do interior, que só Deus sabe os sacrifícios com que são feitos.


O abraço amigo e agradecido do seu


Carlos Drummond de Andrade

Ubá, 27 de maio de 1972


Meu caro companheiro

Dermeval José Pimenta,


Ainda estou sob o impacto agradável de suas palavras em Ouro Preto falando sobre “Caminhos de Minas Gerais”. E li por inteiro o seu livro, colocando-o em lugar de destaque na modesta estante da casa para uma consulta sempre necessária. Você dimensionou, muito bem mesmo, as arrancadas de ontem para romper as distância que nos envolviam.


Rabisquei para o jornal local “Folha do Povo”, modesto semanário que o senador Levindo Coelho dirigiu por quarenta anos, a nota que o distinto companheiro verá. O meu trabalho na governadoria me impediu que fizesse a revisão. Daí tantos erros tipográficos. Mas você conhece as agruras da imprensa do interior.


Com meu melhor abraço por tudo, sempre mais amigo e admirador o


José Campomizzi Filho.

Caminhos de Minas

Folha do Povo, 27 de maio de 1972


Insulada entre montanhas, desde longa data esta província busca seus caminhos definitivos para o mar. Embrenhando-se pelos sertões, o paulista destemido encontrou os veios auríferos e se entusiasmou com os aluviões. Retornou ao litoral anunciando a riqueza e afirmando o inesgotável achado. Desde logo populações inteiras chegaram para vasculhar o imenso território, percorrendo-o em diferentes direções e plantando os primeiros núcleos que se transformaram nos arraiais ativos. Faltava, entretanto, uma rota mais fácil para a remessa do metal e para a aquisição dos artigos necessários à manutenção dos pequenos burgos e ao próprio desenvolvimento da área. As picadas iniciais nem sempre atendiam à comunicação urgente. De São Paulo à região do Itacolomi mediam mais de sessenta dias de jornada consecutiva, varando-se rios, transpondo-se serras e vencendo os despenhadeiros. Para o Rio de Janeiro, era mais fácil atingir Parati e realizar por via marítima o restante do percurso. Foi quando Garcia Rodrigues Pais, filho de Fernão Dias Pais, construiu a grande estrada que, em setecentos e um, reduzia para um terço o tempo gasto na viagem. Já agora contavam as minas com um escoadouro certo, garantidos os abastecimentos e mais seguro o trajeto. E essa linha foi aproveitada depois pela ferrovia que, galgando a serra, demandava a região mediterrânea. Durante tantas décadas, entretanto, o isolamento foi a nossa constante. Ordens régias fechavam as portas mineiras nas suas saídas naturais. Apenas o Caminho Novo, com os seus registros e com o seu sistema policial, permitia o tráfego normal das tropas. Eram proibidas quaisquer tentativas para a Bahia e para o Espírito Santo. As matas de leste se consideravam afastadas de cogitações.


Com isso, estrangulou-se a possibilidade do aproveitamento de terras que, agricultáveis e próprias para o gado, ficaram por tantos lustros

entregues ao gentio. A estrada real, já no Império, contava com pousos mudados em vilas e com registros feitos cidades. Mas não bastava para a importância mineira, na sua estrutura. Foi quando, em oitocentos e trinta e sete, Bernardo Pereira de Vasconcelos, Antônio Paulinho Limpo de Abreu e Teófilo Otoni, entre outros, apresentaram à nossa Assembleia Legislativa um projeto de admirável alcance. Planejavam esses estadistas um conjunto essencial de vias que, em diferentes direções, pudessem injetar desenvolvimento, orientado e firme, a diferentes porções de nosso território. Partindo de Ouro Preto, esse sistema de estradas carroçáveis ganharia o norte até Minas Novas, seguiria para leste até Abre Campo, atingiria o oeste no rumo de Uberaba e teria ao sul algumas coordenadas. Nem sempre foi possível sua concretização, que lutava o erário com falta de meios. Entretanto, tomou-se uma posição. Significou esse projeto, de qualquer modo, uma orientação que nortearia o esforço de governantes e de empresários, na busca da consolidação de nossa vocação de trabalho e de liberdade. Seguiram-se a União e Indústria e as ferrovias nem sempre satisfazendo perfeitamente às nossas carências, mas de uma forma ou de outra servindo ao intercâmbio comercia que deu vida aos municípios espalhados em diferentes regiões. Desses caminhos mais antigos existem marcas definitivas. Pontes e bueiros, cortes e viadutos, obras de arte de certo vulto e trabalhos de alta monta, representam muito no esforço vencendo dificuldades e superando acidentes.


Os anos não destruíram esses testemunhos que enfrentam os séculos e que devem ser preservados em memória do sacrifício que custaram. Nas andanças pelos sertões, tantos dos nossos grandes vultos do passado percorreram essas artérias marcando-as com suor e com sangue.


Pois o engenheiro Demerval José Pimenta, figura admirável de homem público e de historiador, conhece-os desde mais de meio centúria. Criança ainda, vindo de São João Evangelista para Diamantina, sua atenção se viu despertada para o alto significado dos caminhos que as tropas percorriam fazendo a ligação entre os burgos. Mais tarde chegando a Vila Rica, acompanhou o trajeto das carruagens pela estrada real. Agora, na intensidade de sua participação na vida mineira, não se esqueceu da importância dessas ligações no processo evolutivo da província. E redigiu capítulos focalizando essa questão, importante para a civilização mineira e essencial para o próprio estudo de nossa sociologia. Seu “Caminhos de Minas Gerais”, aparecido com o selo da Imprensa Oficial, é alguma coisa de positivo desnudando aos nossos olhos o quadro da formação de nossa realidade. Mas não se fixou o escritor coestaduano apenas e tão somente na documentação que encontrou nos arquivos.

Foi mais longe, porque enfrentou as canseiras da viagem e percorreu, uma por uma, essas estradas que retratam o período setecentista nas suas angústias e nas suas lutas. Reconstituiu a presença do imperador Pedro I em Ouro Preto e em Mariana, ainda príncipe regente, buscando nessas montanhas a inspiração e o apoio necessário à vitória do movimento que encabeçou pela independência. E neste sesquicentenário, urge que nossas forças vivas se emprenhem na construção, no Capão da Lana, de um monumento que lembre para todo e sempre essa participação montanhesa no preparo do Sete de Setembro. Indo às fontes, buscando farto material iconográfico, interpretando acontecimento e vivendo o passado, Demerval José Pimenta, com esse admirável e simpático “Caminhos de Minas Gerais”, presta um serviço imenso à cultura mineira. Toda uma civilização se construiu ao longo dessas artérias. Foram elas preciosas para o estabelecimento de nossas raízes. E o livro oferece subsídios para novos volumes porque transcreve leis e guarda roteiros. É uma obra para ficar.

Originalmente conhecida como "A Scena Muda", a partir de 1941 passou a adotar o nome de "A Cena Muda" e é considerada a primeira revista no Brasil a se dedicar exclusivamente ao universo do cinema. Publicada pela primeira vez em 31 de março de 1921, no Rio de Janeiro, pela Companhia Editora Americana, ficou em atividade até 1955.


Devido ao seu enfoque nas vidas das estrelas do cinema para gerar mais interesse entre os leitores, ganhou a reputação de ser uma "revista de fãs". Dentro do cenário brasileiro, "A Cena Muda" também se destaca por ter tido o maior período de publicação entre as revistas focadas em cinema.


Em 1943 o jornalista José Campomizzi Filho, após anfitrionar a estrela de Hollywood Ilona Massey (1910-1974) ressaltou seu talento em crônica publicada na edição 46 da revista.

Ouvindo Ilona Massey


Vimos Ilona Massey. Ouvimos a sua voz. As suas doces canções feriram-nos os ouvidos, na doce ilusão de estar ouvindo anjos a dedilharem nos órgãos doirados do infinito, as melodias sublimes dos cantos divinos. A sua voz, na harmonia eterizando dos seus acordes, faziam os nossos pensamentos baldar, no sentimentalismo supremo das nossas aspirações, na impressão agradável de estar em mundos diferentes de sonho e de luz. O seu corpo sedutor, a sua voz terna e agradável, tudo fazia com que a formidável intérprete de “Balalaika” não viesse desmentir o conceito com que se tinha firmado como cantora de méritos excepcionais e como estrela de primeira grandeza do firmamento de Hollywood.


Todo o mundo conhece Ilona Massey. Filha das paragens poéticas da Hungria, é um presente que aquele legendário país dos Bálcans deu ao mundo e que Hollywood transformou em glória universal.


Vimos Ilona Massey. A sua voz trouxe-nos o ritmo delicioso das suas canções, enviando ao nosso cérebro as mensagens da sua pátria, em anseios infinitos de paz. Porque a sua voz, divina, meiga, serena, faz-nos vibrar em espasmos de alegria, esquecendo os horrores da guerra e crendo mais ainda na vitória dos povos livres.


A sua figura jovem, bela, sutil, os seus cabelos doirados, como as águas do Danúbio em tardes de outono, faz-nos crê-la uma princesa das histórias da infância, com os seus passos leves e a sua voz incomparável.


Os trejeitos do seu corpo, no compasso rítmico das suas canções, na sutileza dos seus passos, transformam-na na nossa lembrança, como uma dessas visões beatíficas que não se pode esquecer nunca.


Vendo-a, vem-nos ao cérebro, em doces recordações, as cenas do seu monumental “Balalaika”. A técnica do cinema não havia mentido. Ilona Massey é mesmo aquele poema vivo que se percebe no filme, mostrando-se na volúpia da sua voz, a verdadeira “virtuose” que é.


A sua carreira foi rápida, revelando-se Ilona Massey, desde o seu primeiro filme, a grande estrela que é, marcando no firmamento do cinema, o lugar de destaque que tanto merece.


Atualmente, hospedamos Ilona Massey. E foi com justo orgulho que os seus fãs, deliciando-se na ventura de merecer os seus sorrisos, foram vê-la.


A sua voz, a sua figura encantadora, foi tudo o que percebemos.


Vimos Ilona Massey. E foi um prazer enorme tê-la diante dos olhos, pois ela é mesmo um pouco de música em formas de mulher.


Campomizzi Filho.

Ilona Massey no Cassino da Pampulha em 1944

A revista Beira-Mar foi fundada em 1922 por Manoel Nogueira de Sá e fora editada semanalmente com uma média de 15 páginas. Seus leitores eram integrantes da comunidade CIL (Copacabana, Ipanema, Leme), considerada a elite carioca. O objetivo da revista era articular e divulgar uma imagem de distinção e elegância associada a essa região da zona sul do Rio de Janeiro. O periódico lançou sua última edição em 1946, totalizando 785 edições publicadas desde 1922.


Na edição 753, do dia 28 de agosto de 1943, Campomizzi Filho Publicou a Crônica “Copacabana” que eleva as belezas daquele tradicional bairro carioca.

Copacabana


Campomizzi Filho


Praia de Copacabana. O mar, em eterna inconstância, beija a areia branca da praia, enlaçando-a com um rosário imenso de espumas. Noite calma. Noite calma e bela, como só as noites daquele caminho poético da cidade, na Av. Atlântica e diante do contorno artístico da praia. Dois vultos passeiam ao longo da calçada. São duas silhuetas fazendo sombra na areia branca, de mãos dadas, esquecidos no mundo e embebidos em contemplações de amor. São música e alegria da noite silenciosa, vida naquele recanto risonho e diante da natureza adormecida. Copacabana, à noite, é uma paisagem encantadora que se não esquece nunca, gravando-se na nossa retina para sempre, como um pedaço da nossa vida. Tem-se a impressão doce de estar diante de um mundo diferente e onde a natureza, mesmo dormindo, é um sorriso de beleza e de ventura.


A praia é um sorriso, o mar soluça hinos e os namorados inspiram poemas de amor. O bairro adormecido, diante de nós, é um atestado de vida. As novas construções, palacetes e vivendas, arte arquitetônica para completar a natureza, mostram-nos o quanto aquele recanto chic cresce de dia para dia. A natureza, sempre pródiga, fez de Copacabana um jardim, onde as árvores brotam altaneiras e dão uma nota de poesia às ruas e às avenidas calmas.


Ao longe, o mar imenso, alegria dos dias de calor, nota elegante e atração do bairro, é um poema harmonioso, como um gigante dominado pelos grandes edifícios que apontam para o céu.


De quanto em vez, um automóvel passa, buzinando, com os faróis acesos e deslisando sobre o asfalto. É alguém que volta do clube ou do casino que, ali mesmo no bairro, divertem a população, ou é alguém que, noite alta, volta de um trabalho árduo e prolongado até altas horas.


Longe, num daqueles grandes edifícios, em vigília, alguém conserva a luz acesa. É um escritor. Diante de um livro aberto, arranca da alma as suas páginas. É um poeta que sonha de olhos abertos, compondo estrofes que o imortaliza. Sim, porque Copacabana é um ambiente de poesia. A natureza bela e calma, o contorno artístico da praia, as montanhas que se elevam ao céu e o conjunto harmonioso das construções, tudo encerra uma inspiração sublime para o coração. Copacabana toda é um poema da natureza.

Correio da Manhã é um jornal que começou sua circulação em 15 de junho de 1901, fundado por Edmundo Bittencourt e encerrado em 8 de julho de 1974. Durante a maior parte de sua história, o periódico foi um dos líderes da imprensa brasileira e se destacou por ser um "jornal de opinião".


Na edição 22116, circulada em 13 de maio de 1965, Campomizzi publicou uma crítica literária sobre o livro “Memórias de João Paraguassu” escrito pelo jornalista Manuel Paulo Filho (1890-1969) publicado pela Editora São José em 1964.

Memórias de João Paraguassú


José Campomizzi Filho


Desde longa data, acompanhamos nas páginas do velho CORREIO DA MANHÃ a carreira jornalística de M. Paulo Filho. O vibrante matutino de Edmundo Bittencourt tem enorme penetração nestas Minas Gerais, chegando com regularidade até mesmo aos burgos mais distantes. Suas mensagens de civismo, em campanhas memoráveis, em editoriais bem lançados, em colaboração preciosa ou em noticiário informativo, tudo desperta interesse no leitor que se deixa convencer e que ali se orienta. É possível que nós divirjamos de alguma coisa que as suas edições publicam. Mas deixar de admirar o órgão destemido, é impossível. Há alguns anos, assumindo a promotoria de justiça da Comarca (Ubá), chegamos a Brás Pires para uma visita à cidade e atingimos a fazenda do farmacêutico Hortêncio Vilela. Lá estava ele em dia com a política internacional e com os acontecimentos nacionais pela leitura diária do jornal que recebia com um atraso de três dias. Mas não importava, que tudo lhe parecia atual nos conceitos e nas notícias. E são inúmeros, entre nós, os casos idênticos, como se aquelas páginas se incorporassem à existência dos cidadãos. Bacharel provinciano chegando à metrópole para vencer. M. Paulo Filho encontrou uma tribuna livre e um campo de trabalho na redação do CORREIO DA MANHÃ. E lá se encontra desde mais de meio século, acompanhando-lhe as conquistas e seguindo-lhe a ascensão. Repórter e comentarista, esteve sempre em contato com figuras de destaque da vida nacional ou com estrangeiros ilustres que nos visitaram. Daí uma experiência admirável no trato com os homens que soube observar de perto. Escreveu, então, esse simpático “Memórias de João Paraguassú”, que nos entrega agora pela Livraria São José. O volume de duzentas páginas, com apresentação gráfica distinta, fala dos contatos do jornalismo na sua atividade de buscar notícias para informar bem. Explica a razão do pseudônimo ainda hoje adotado para assinar as crônicas de cada dia. É que nasceu na cidade de Cachoeira, na Bahia, cortada e às vezes inundada pelo rio Paraguassú. Na paisagem da infância, a caudal é uma constante. Afastando-se do burgo de tamanhas tradições nas lutas pela liberdade, manteve-se fiel ao muito que ali recebeu. Partiu um dia para Salvador em busca dos preparatórios secundários. Guarda nítidas recordações dos mestres e condiscípulos. Nomeado pelo governador Araújo Pinho, andou pelo sertão como representante do Ministério Público. Viu de perto a influência dos velhos coronéis. Deixou o cargo, esperando uma remoção para outra comarca que não veio, e seguiu para o Rio de Janeiro onde realmente se firmou. O livro, que agora público está disputando, é dos pontos altos do nosso movimento editorial pela sua maneira de ver e de expor os fatos, pretendendo pelo brilho da palavra fácil e pela sobriedade do estilo impecável.


Os livros de memórias têm um público certo e contam com sucesso garantido. Gostamos todos de conhecer as experiências dos outros, nas fórmulas usadas para as vitórias conseguidas. A verdade, entretanto, é que M. Paulo Filho segue outra técnica. Fala pouco de si mesmo e foge ao uso da primeira pessoa do singular. Quando se refere à escola primária ou ao curso secundário, aos bancos acadêmicos ou aos companheiros de jornal, oferece-nos o testemunho de uma época. Valem as suas crônicas, por isso mesmo, como importante documentário. O retrato que pinta de Edmundo Bittencourt, o fundador do CORREIO DA MANHÃ, é um quadro de corpo inteiro, revelando os aspectos todos da existência do lutador intemerato. Foi pena haver desaparecido o arquivo do visconde de Abaeté. A farta documentação do período regencial permitiria hoje uma melhor interpretação dessa fase decisiva da vida brasileira. As críticas a Alfredo Ellis, representante de São Paulo no Parlamento, sacudiram-lhe os brios e, para mostrar-se orador, denunciou e impediu que, à sombra do orçamento federal, se fizesse uma negociata lesiva altamente aos cofres públicos. Na poliantéia em homenagem a Hermes da Fonseca, um soneto de B. Lopes fez figura. O poeta, funcionário público, foi convidado a colaborar na obra. Redigiu de qualquer maneira uns versos que deixaram mal o autor e o homenageado. Modesto Leal teria sido agraciado pela Santa Sé por merecimento. Já Carlos de Laet, dizia com ironia o jornalista e polemista católico, conseguiria a mesma distinção por antiguidade. Lauro Müller, engenheiro militar e ministro, explicava a razão da existência de diferentes tipos de locomotivas nas nossas ferrovias: variedade de caminhos a percorrer e, ainda, nem sempre os mesmos intermediários e os mesmos fornecedores. José de Alencar fez restrições à Confederação dos Tamoios, de Magalhães. No mesmo diapasão, era o pensamento de Alexandre Herculano.


M. Paulo Filho, nas suas “Memórias de João Paraguassú”, evoca-nos um passado que merece o nosso respeito e a nossa admiração. Conviveu com estadista e com magistrados. Fala-nos a cada momento de Pedro Lessa e de Edmundo Lins. Os dois ministros do Supremo foram bons amigos do jornalista e lhe dispensavam especial atenção. Daí ouvir-lhes confidências e anotar-lhes o pensamento. Vamos lendo, então essas páginas, espécies de confidências, com alegria e entusiasmo. O jornalista é escritor eminente. Interessa-se pelas letras. Vê nas entrelinhas e não se circunscreve a noticiar. Porque tem mensagens a transmitir ao leitor na permanência dos contatos que são duradouros. No jornal, a palavra fica apenas pelo espaço de um dia. Mas no livro, de pé na estante, os registros se firmam, para as consultas e para uma releitura que conforta. Mais um serviço ficamos a dever M. Paulo Filho.


A influência do CORREIO DA MANHÃ não perdeu em profundidade com o rádio ou com a televisão. A cada dia mais se firma o valor do matutino que sustenta campanhas e que orienta bem nos editoriais e nas notícias. Pequenas divergências não nos afastam de suas páginas que M. Paulo Filho valoriza com o João Paraguassú e de onde nos trouxe as suas memórias que contam fatos da vida brasileira, e acompanham o desenvolvimento de nossa História. É preciso ler e ter à cabeceira as Memórias de João Paraguassú, livro marcante, mostrando toda uma época, revelando os nossos homens e entusiasmando pelo que nos oferece.


O comentário de José Campomizzi Filho, publicado na revista Scena Muda em 1944, aborda um tópico significativo da cultura brasileira da época: a produção cinematográfica nacional. O autor expressa um ceticismo inicial em relação aos filmes brasileiros, muitas vezes considerados mediocres. No entanto, ele aponta que o filme "É Proibido Sonhar" da companhia Atlântida marca uma mudança notável, apresentando um retrato mais realista e habilidoso da vida e da cultura brasileiras. Campomizzi Filho vê no filme um sinal de melhoria e um potencial para a indústria cinematográfica brasileira, destacando que, apesar de suas imperfeições, o filme é um passo à frente na quebra do "círculo de descrença" que envolvia o cinema nacional.

Não é proibido sonhar...


Campomizzi Filho


Quando encontramos em cartaz um filme produzido em nossos estúdios, forçoso é dizer, ficamos desconfiados dos méritos do celulcide, cansados que estamos de ver produções medíocres.


Estávamos proibidos de sonhar, para não termos a triste desilusão de, ao assistirmos em novo filme, observar falsas interpretações, tipos inexistentes e enormes falhas de técnica, frutos, talvez, da ausência de verdadeiros batalhadores pela causa do nosso cinema.


“É proibido sonhar”, veio provar-nos que não é proibido sonhos com a vitória das nossas produções apresentando-nos um filme comedido nas suas cenas, sem os falsos tipos que só serviam para desmerecer os nossos artistas e a nossa cinematografia.


Nas cenas desse novo filme da Atlântida, companhia que nos anima a acreditar na nossa indústria de cinema, desenvolve-se um romance dos nossos dias, em cenas bem feitas, com os problemas da vida diária, transplantando à película episódios verdadeiros.


“É proibido sonhar, possui essa força que prende o espectador do princípio ao fim da projeção. Apresenta imperfeições, sim. Mas diante do conjunto da obra que, sem nenhum favor é o melhor filme saído dos estúdios brasileiros. Vêm, deste modo, quebrar o circulo de descrença que envolvia o cinema nacional. E a Atlântida, essa organização a que está destinado um futuro brilhante, está de parabéns, como estão de parabéns o público e arte brasileira.


Go Back

A revista Carioca surgiu em 10 de outubro de 1935 com a proposta de ser um periódico moderno, leve e ágil. Prometia abrir um diálogo semanal, aos sábados, sobre fatos ocorridos no Brasil e no mundo. Seu público-alvo era composto principalmente por mulheres e jovens. Abordava esportes, rádio, cinema, novelas e contos, turismo, curiosidades, fatos científicos e didáticos, sempre com novas abordagens e um vasto enfoque na seção de modas e assuntos femininos.


O conto "Mariazinha está sonhando" publicado na edição 542, de 1946, de Campomizzi Filho é uma obra rica em descrições atmosféricas e emocionais. Ele apresenta um olhar profundo sobre a vida na cidade de Tiradentes, um local marcado por sua história e decadência econômica. O ambiente é quase um personagem em si mesmo, fazendo contraponto ao destino humano dos personagens.

Mariazinha está sonhando

Conto de Campomizzi Filho


VELHA TIRADENTES. As torres centenárias da matriz lá estão, dominando a cidade decadente e acenando aos céus numa prece silenciosa de paz. Dos tetos enegrecidos do casario irregular, entre ramagens de bananeiras verde claras, sobem espirais preguiçosas de fumaça. Ali existia vida.


As ruas tortuosas da cidade mal calçada evocam um passado distante de fausto e de grandeza. Naqueles casarões reinou opulência quando o ouro brotava à flor da terra, em profusão espalhando riqueza e engrandecendo a urb.


As minas estagnaram-se. A povoação decaiu e os forasteiros se foram à cata de novas aventuras.


Mas a igreja grande ficou com a arte dos seus altares e a simetria do seu conjunto maravilhoso. O Aleijadinho deixara nas ruas paredes de pedra a marca imperecível do seu cinzel. E o gênio do mulato aleijado imprimiu à velha matriz, na respeitabilidade do seu silêncio e na beatitude da nave santa, a grandeza imortal da sua arte.


A cidade é todo um poema de história. O Rio das Mortes, serpenteando por entre bambuais frondoso, relembra as figuras dos inconfidentes andando por aquelas ruas nos seus anseios de liberdade. E o deslizar das águas mansas nos meandros geométricos sussurra prelúdios de Chopin e sonatas de Beethoven.


Fica lá em baixo o presídio de senhoras. De todos os recantos da terra mineira onde existem sentenciadas, elas vão para Tiradentes, cumprir pena na velha cidade onde viveu o idealista da independência pátria.


Entramos naquele edifício cor de rosa. Um sol brilhante de manhã branda, penetrando por entre as grades fortes, desenha nas tábuas largas do assoalho antigo, arabesco futurista.


Para o corredor sombrio convergem as portas largas das celas. Um sorriso da mulher bonita, fascinante e terno, recebe o visitante. Mas existe um drama através daquela máscara simpática.


Mariazinha recorda. Um tiro dentro da noite mudara o rumo da sua vida ditosa. Rolaram por terra, naquele instante de irreflexão, todos os seus venturosos sonhos de donzela. A felicidade idealizada e esperada nos verdes anos, mal chegando, já se fora com a tragédia que a levou ao cárcere pelas mãos do João Soldado.


E o policial ali está, velho e triste, tirando baforadas de fumo do seu cigarro barato. A farda amarela, meio rota, não lhe assenta bem. O boné suado tem manchas de suor.


Mas João Soldado é autoridade de dentro daquela quixotesca figura. E, quando de bom humor, conta para as sentenciadas os seus feitos gloriosos nas revoluções. Em arrancadas memoráveis, lutara admiravelmente e arrancara os chefes as mais vivas palavras de elogio. Prometeram-lhe até uma promoçãozinha por atos de bravura. Mas as divisas não vêm e os anos se sucedem...


João Soldado ali está, de sabre à cintura refletido nos olhos mansos e terno de Mariazinha.


A moça bonita é o ponto de atração do curioso presídio. Os soldados do Exército costumam vir de São João del Rey para visitá-la. Nas marchas forçadas através dos campos, os cominhos simpáticos de verde oliva se extasiam diante dela que, do outro lado das grades fortes de ferro, sente-se mais tristes e mais acabrunhada ante os olhares perscrutadores dos rapazes. E Mariazinha gosta de visita dos moços do Exército, mesmo assim, porque eles entram pelo corredor sem dar obediência ao João Soldado!


Dentro da noite houve uma explosão. Mariazinha mesma não acreditara que os seus dedos tivessem força para acionar o gatilho naquela hora de desespero. Mas falara mais alto a voz do coração, numa luta inferior que ela sustentara por longos momentos.


A um canto da cama dormia o seu filhinho. O inocente acordara após o estampido e quando ele caíra ao chão, entre soluços fortes, para erguer-se depois pelos braços musculosos dos policiais.


Não pedira absolvição. Não contratara defesa. Agira de acordo com a sua consciência e não esperava perdão para os seus ciúmes loucos de quem muito amava.


Agora, ali estava. Mas não perdera a sua fé e não se contaminara com as ideias tolas das companheiras de infortúnio. Para as horas com os olhos fitos nas torres grandes da velha matriarca São José. E o bucolismo encantador do Rio das Mortes chega até ela numa saudação de poesia e de ternura, convidando-a a esquecer um pouco as horas tristes quando a vida lá fora estua em espasmos de alegria.


O sol desenha no assoalho arabescos de luz. Sonatas maravilhosas, na sinfonia terna da natureza em festa chegam aos seus ouvidos.


A velha Tiradentes descansa de um passado febril de grandes evocações.


Os garotos do Grupo Escolar gritam estridentes.


João Soldado, sabre perdurado no cinto roto, tira baforadas de fumaça do cigarrinho barato.


E Mariazinha sente consolo ante natureza em festa e enche os pulmões do ar perfumado que vem das plantas em nova primavera. As grades de ferro são barragem para o seu corpo. Mas se espírito, em pensamentos tumultuosos divaga por um mundo diferente de fantasia, de sonho e de vida.

A Revista Semanal Ilustrada “Jornal das Moças” (1914-1965), foi uma publicação que partiu do Rio de Janeiro com distribuição em todo o Brasil. Fundada por Agostinho Menezes, a revista tinha como foco o universo feminino, incluindo moda, conselhos domésticos, receitas e entretenimento.


No período de 1944-1945 temas relacionados à Segunda Guerra Mundial e à participação brasileira no conflito foram veiculados nas páginas do semanário. José Campomizzi Filho contribuiu na edição 1557 em abril de 1945 com a crônica a seguir:

Cartas para combatentes


Campomizzi Filho


Por cima, os estalidos das metralhas. Ao longe, o eco dos canhões mortíferos, espalhando terros e sangue. O soldado ali está, vigilo, arma empunhada, visando as linhas inimigas, lutando heroicamente em busca da vitória, certo de que ela o reconduzirá à pátria distante. E essa pátria querida ficou do outro lado do Atlântico, também esperando a sua volta, como uma noiva que vê o querido partir.


A pátria distante é um pouco da sua vida e significa a síntese das suas aspirações. Por ela, trocou a sua tenda de trabalho por aquela trincheira úmida. Pelo seu amor, ali esta ele, moço feito soldado ouvindo zumbidos de projéteis indo de encontro, talvez, à própria morte.


Mas ele, soldado moço de um Brasil moço, adquiriu, ao nascer, o sangue indômito do bandeirante impávido, numa mistura com a selvícola livre dos verdes mares bravios. E um bravo, quando em luta, não pensa e não sonha com a morte. Tem, antes de tudo, confiança nos seus camaradas, confiança nas suas artes e confiança em si mesmo. Sonha, sim, com os olhos incomparáveis da amada distante que ficou, saudosa, esperando-lhe a volta. Pensa, sim, na mamãezinha querida, nos beijos ternos que somente ela sabe dar. Pensa nos seus sorrisos de carinho, que são como prêmios nos seus sorrisos de carinho, que são como prêmios aos dias de trabalho.


No ar, abutres de aço enchendo o espaço. Há um momento de trégua. Neva. E o soldado ajeita na cabeça o capuz de lã que as mãozinhas amigas das suas patrícias teceram com cuidado e lhe enviaram como presente de festas. Verde, é mais um pouco de recordação do seu Brasil grande, que ele tem no coração e que representa a sua própria felicidade, desde o borborinho insano das grandes metrópoles ao bucolismo encantador dos campos e das aldeias.


Sonha. Os estalidos das medalhas e o deflagar das granadas pouco significam, de vez que as evocações da pátria falam alto ao coração, passando pela sua retina as grandezas da terra e as maravilhas da natureza.


Quando chega um avião, trazendo mensagens de amor e de entusiasmo em milhares de cartas, ele também vai, pressuroso, ao encontro das letrinhas encantadoras que lhe trazem as notícias do seu torrão. Uma carta é como um bálsamo para as suas recordações, trazendo um reconstituinte para as suas forças, na certeza de que ele tem, nas terras distantes onde nasceu, alguém que lhe acompanha os passos e segue, com carinho o desvelo, as suas conquistas, as suas vitórias.


Por cima, os estalidos das metralhas. Ao longe, o eco dos canhões mortíferos, espalhando terror e sangue. O soldado ali está, alegre, empunhando as suas armas, porque, na retaguarda, no outro lado do Atlântico, ficou alguém que não se esquece dele e manda-lhe as boas notícias em cartas meigas.


É essa a missão da madrinha do combatente. Escreve cartas aos seus irmãos de sangue, aos defensores do seu lar, encorajando-os com as suas palavras, animando-os com as boas notícias.


As cartas são remédios para a alma...

Na edição 1574 de 16 de agosto de 1945 Campomizzi publica “Um poema vivo” em prosa poética repleta de imagens líricas e sentimentos intensos que expressam uma admiração profunda e quase mística pela figura feminina. Ele evoca o mundo sensorial e emocional de uma maneira que é mais comum à poesia do que à prosa tradicional. A personagem feminina fica descrita em termos quase divinos, elevando-a a um status que vai além do mundano para se tornar um ícone de beleza, graça e espiritualidade.

Um poema vivo


Campomizzi Filho


OUÇO OS TEUS PASSOS, nas minhas noites de insônia, percebendo em cada ruído da natureza o sussurro meio dos teus sorrisos. Os teus olhos faíscam luz, embevecendo-me e deixando-me estupefato diante das tuas palavras de carinho.


Quando tu passas e o teu vulto enche o caminho e perfuma o ar, inundando tudo com a alegria sã do teu porte sedutor, os meus olhos, os meus sentimentos, quedam-se aos teus pés. Tens em ti algo de misterioso que me prende e me fascina, subjugando-me os pensamentos, única consoladora das minhas aflições.


A silhueta maravilhosa do teu corpo, realização incomparável de um pincel de artista, baila diante dos meus olhos no cadenciado rítmico das canções vaporosas que os teus olhos relembram. És um poema. Um poema sonhado, irrealizado, que não cabe sequer nas nossas pobres palavras. És um poema de desejos e sonhos, de beleza e majestade, concebido à luz calma das estrelas, na amplidão infinita de pensamentos de amor.


Os meus olhos percebem o teu coração. Nele descobrem um relicário intangível de paz, longe do materialismo da vida, no aconchego risonho dos teus pensamentos em formação.


O sorriso das tuas faces é sorriso de candura. É algo de divino desprendido do infinito, inspirando paz e tranquilidade, na alegria inebriante e embriagadora do teu sentimentalismo de mulher bonita.


Menina bonita da minha terra, encanto maravilhoso das nossas paisagens, es afirmação sincera da nossa grandeza espiritual. Menina bonita da minha terra, encanto maravilhoso das nossas paisagens, és um pedaço feliz da minha vida.

O texto "Esperanças de um dia de chuva" de Campomizzi Filho, publicado no “Jornal das Moças”, edição 1670, de 1947, é uma exploração poética e emocional do estado de ânimo do narrador durante uma noite de insônia e chuva. A atmosfera é densa, carregada de melancolia, e captura bem a sensação de isolamento e desolação que muitas vezes acompanha a insônia.


O texto trabalha com contrastes interessantes. Existe uma oposição clara entre o dia ensolarado, um símbolo da felicidade passada entre os amantes, e a "noite tempestuosa, entrecortada de relâmpagos e de trovões" que reflete o estado atual da relação e o clima emocional do narrador. Essa transição do clima funciona como uma metáfora da vida emocional, que é igualmente capaz de sol e tempestades.

Esperanças de um dia de chuva


Campomizzi Filho


CHOVE. Como pingos d’agua que caem das nuvens, batendo monotonamente no asfalto da rua, eu conto os minutos da noite, perdido nessa insônia que me maltrata. Chego à janela. Olho lá fora a tristeza da noite, sem vivalma a dar o seu ar de vida.


A chuva cai. As ruas, lavadas, refletem a luz das lâmpadas. A tristeza, na quietude desoladora da chuva, parece multiplicar os minutos em horas, demorando enormemente a passar.


A janela, esfregando os olhos, procuro relembrar os nossos encontros, os minutos da nossa felicidade, na ânsia incontida de esquecer aquela insônia. Vens-me ao pensamento, na meiguice dos teus sorrisos, na beleza das tuas palavras, contraste enorme com a nostalgia da noite. Mas a nossa felicidade foi como o dia de hoje. Depois de um sol de alegria e de vida, vem uma noite tempestuosa, entrecortada de relâmpagos e de trovões.


Também para nós há de raiar um novo dia de sol. Depois dessa nossa separação, cortando esses dias apreensivos por que passamos agora, teremos novos dias de felicidades, afogando em sorrisos de ternura as lágrimas que hoje sulcam a nossa face.


Esperança. E eu vejo esperança nesta noite de chuva. Além, lá onde o céu parece unir-se à terra num terno e prolongado beijo, vejo résteas de luz. Amanhã, o nosso amor será também pleno de luz e de felicidades.

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